sexta-feira, 9 de junho de 2023

Quando Nossa Educação Deseduca

 


A nossa educação deseduca sempre que ensinamos conhecimentos, sem instruir os valores éticos que devem dirigi-los.

A nossa educação deseduca quando há muita informação, mas pouco ensino dos princípios de amor e justiça que servem para saber o que fazer com ela. Assim, a informação como sendo uma forma de poder, torna-se um poder sem freios, sem medidas, sem limite, por que carece dos princípios éticos norteadores das decisões, os conceitos de amor e retidão nas situações específicas e suas práticas comportamentais na vida real.

Viver em uma sociedade democrática, onde o livre-arbítrio é respeitado, não é, de forma alguma, viver em uma sociedade imoral, onde a liberdade se confunde com legitimação do mal, pela soberania do dinheiro sobre o amor e a retidão. Afinal, quem é bem-visto e valorizado? O que alcança sucesso, que, nessa sociedade está sempre vinculado ao dinheiro, ao poder, à aparência, ao status.

O dinheiro paga os outdoors, filmes e mídia. Por isso eles podem colocar quaisquer imagens e instruir valores corrompidos às massas, sem que as mesmas tenham propaganda ou ensino da mesma magnitude dos bons valores. Eles nos apontam como é desumana a falta de oportunidade de emprego a uma pessoa e como é cruel uma sociedade onde um não cuida do outro, não ama ao próximo como a si mesmo. Pelo contrário, muitas vezes o deixa perecer.

Parece que criamos um monstro ao longo da história, monstro esse do qual todos somos responsáveis, mas quem se responsabiliza? Na parte que me cabe, quero deixar claro que o sistema em que vivemos é injusto, desrespeitoso, imoral, usa pessoas e não ama, é oportunista e não cuida, é aproveitador. E cada um tenta salvar a si mesmo desse monstro, mas somos nós mesmos que não dizemos “não queremos esse "monstro", não aceitamos, queremos algo amoroso e justo”.

Começa desde cedo na escola. Somos chamados a saber tanta informação e a sermos tão exigidos. Somos colocados numa competição em que as notas nos medem e nos comparam. Do lado de fora, o pedinte e sua família moradora de rua. Mas, os adultos deveriam poder trabalhar, por que não estão trabalhando? Alguns podem, mas não querem trabalhar, mas acredito não ser o caso da maioria. Todo ser humano tem valor intrínseco, talentos e dons a serem desenvolvidos e aplicados na sociedade. Mas, então, por que há excluídos? Todos podem ajudar em algo, cooperar para suprirmos as necessidades uns dos outros. O que está acontecendo? Será que a competição na escola é para dizer que os que tiverem melhor nota terão emprego e os demais serão excluídos? Mas exclusão seria imoral, a não ser que a pessoa tenha tomado essa decisão por ela mesma. Mas e as demais pessoas excluídas? Estamos falhando com elas como sociedade. Talvez também suas famílias tenham falhado. Mas quem tomará a responsabilidade e as ajudará? Onde anda a justiça social? Se cometemos erros enquanto sociedade, devemos repará-los, assumirmos a responsabilidade.

Ah, estamos copiando modelos? Seriamos nós independentes ou semicolônias, ou ainda não temos o direito e o livre-arbítrio de escolhermos o que queremos ser enquanto nação? Ah, quem faz faculdade é valorizado, quem não faz, não? Então, todos faremos faculdade para não sermos humilhados ou subempregados. Por que não valorizamos as carreiras técnicas? Por que não damos valor aos ofícios manuais? Ao pequeno agricultor? Por que é a ditadura das máquinas e dos robôs? Mas quem está impondo a tecnologia sobre nós e para quê? Quem decidiu e quem é conivente? Antigamente esse tipo de atitude era chamada “progresso”. Progresso que arruína vidas e destrói natureza? Seria melhor voltarmos a usar técnicas rudimentares e que todo indivíduo tivesse emprego e seu sustento e dignidade, não ? Quem está decidindo? Quem está aceitando passivamente? Aquele que anda na onda da tecnologia porque dá dinheiro? Então, o dinheiro é o guia, e a vida fácil, sem se esforçar, e saber muitas coisas, sem saber como usá-las e sem beneficiar ninguém? O que é real e o que não existe? O que é benéfico para o ser humano? Para todos?

Essa sociedade se assemelha a uma selva brutal, onde alguns privilegiados nos diversos aspectos podem talvez se “desenvolver plenamente” e outros não. Se escolherem uma profissão valorizada economicamente, serão bem-sucedidos em suas carreiras, e os demais não. Aqueles que não conseguiram se desenvolve bem e assim contribuir com seus potenciais na sociedade tentarão sobreviver, por que as condições não existiam e amor não chegou lá ainda. Então, ao invés de ajudarmos os jovens a desenvolverem seus potenciais e formarmos um círculo de solidariedade e cooperação entre todos, reina uma competição barbárica com seus coices excluindo e marginalizando gente. Por que marginalizando? Por que não tiveram condições e ambientes adequados ao desenvolvimento de seus potenciais, quer por que seus lares eram disfuncionais, quer por que suas escolas eram ambientes agressivos, quer por que suas faculdades eram lugares em que o filtro é mais espesso e o conhecimento inflou levando junto nesse balão de glória, o amor, a compaixão, a solidariedade, a justiça, o cuidado com o próximo, muito embora o conhecimento e as teses sejam de sofisticação cada vez maiores.

Enquanto o conhecimento for regido pela circunstância da ganância de alguns, ou da sede de poder de outros, e não pelo amor e a justiça, é impossível educar para formar uma sociedade melhor. A competição, a diminuição do próximo, o egoísmo, a soberba e a indiferença tornaram-se rolos compressores sobre os demais valores, regendo o conhecimento, tornando a vida dos jovens sem sentido. Deve ele olhar para tudo isso e pensar: onde estou? Vou entrar no jogo da competição para me dar bem ou vou escolher fazer o que acredito ser correto e necessário fazer, usando meus dons e talentos? Mas se eu pensar em cuidar dos outros, ninguém vai cuidar de mim, vou acabar na rua...

Quem vai me ensinar uma profissão? Na escola há um monte de conhecimentos…. Mas e na vida real, como eu uso? Quem vai me dar a oportunidade de ser treinado, de colocar meus conhecimentos em prática? Não posso competir com os mais experientes...Mas quem se importa com os que não têm experiência? Quem vai ajudá-los a terem oportunidades positivas de treinamento e desenvolvimento? Quem vai considerar que as falhas são parte do aprendizado de todos?

Se a sociedade pensa só em si mesma, não pode desenvolver os mais novos, pois está centrada em sua sobrevivência e em seu lucro, e não associou seu dia a dia a ajudar a nova geração a se desenvolver. Esqueceu que um dia teve oportunidade, porque alguém mais experiente se importou com ela. Ou só porque era conveniente e oportuno ou lucrativo para o chefe ou para a empresa? Será que estamos fazendo só o que nos traz lucro, sem pensar no que é benéfico para os outros? Estamos sendo generosos em ajudar a nova geração? Ou só meu filho é meu filho, e com o filho dos outros não se importa? Então, como o pai do outro será com o meu filho? Que tipo de habitat hostil estamos criando com essas atitudes voltadas para o dinheiro – é ele o que move tudo? Assim não há sentido na vida, sentem até as crianças.

Não é tudo que conhecemos e podemos que devemos fazer. O poder e o saber não são suficientes para dirigir nosso ser. É preciso escolhermos nos guiar por valores éticos, pelo propósito de servir ao próximo, beneficiando-o e sendo justos com ele. É preciso vivermos em cooperação e solidariedade. Quem dirige as rédeas do nosso destino enquanto sociedade? A ganância de alguns? A ditadura do egoismo ou da tecnologia?

É preferível todos termos emprego, dignidade e bem-estar a vermos pessoas excluídas nas ruas por um sistema cheio de informação e tecnologia, mas sem amor, cuidado e valorização mútua, sem justiça social. Todos estão entregue a uma competição hostil, onde os que tiveram mais condições se desenvolvem, e os outros, embora se esforcem não acham lugar para expressar suas habilidades, saberes e frutos de seus dons e talentos. Ou não tem o perfil ou personalidade ou maturidade que o mercado aprova. Mas como crescerá sem oportunidade para se desenvolver nos diversos aspectos de seu ser?

É essa a sociedade injusta com que todos somos coniventes, se não nos posicionarmos e fizermos tudo que está em nossas possibilidades fazer para reavivar o amor, o cuidado mútuo, a solidariedade e o altruísmo. Assim, todos seremos felizes e nossas vidas serão cheias de sentido, sentido que só uma vida de amor e a retidão que vêm do Criador traz.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

É possível o Brasil ir rumo à espiral ascendente?




Seria a corrupção e a burocracia dos sistemas brasileiros um acaso ou fruto irremediável de uma história de corrupção, injustiça e opressão? O brasileiro tem fé no Criador que é possível viver em amor e justiça no Brasil?

Aprendi que o hoje sempre traz esperanças, já que as misericórdias do Criador sempre se renovam. Se cada indivíduo decidisse andar em confiança com o Criador, e os pequenos e os grandes não se deixasse corromper, então a corrupção cessaria. Os brasileiros são aqueles os quais o Criador determinou nascerem no Brasil. Se ele assim o fez, é porque confiou a nós a missão de não nos corrompermos diante de um cenário corrompido. Confiou que nós, mesmo tendo oportunidade de tirar vantagem dos outros em sua vulnerabilidade, preferiríamos ajudá-los a se desenvolverem e a frutificarem. Com relação aos mais poderosos brasileiros, confiou que não se venderiam aos opressores estrangeiros ou à ganância. Afinal, que felicidade é essa viver prosperamente em meio a um povo que geme de dor? Tentam salvar a si mesmos, muitos por meio de pequenas corrupções de vantagens: seja mentirinhas, pequenas manipulações ou jeitos, ou grandes desfalques e golpes.

Quero criar um personagem. Seu nome PenaGanância. PenaGanância nunca está satisfeito, pois sempre tem alguém que é mais próspero do que ele. Então ele sente pena de si mesmo. Coitado de mim, ainda não tenho o Ferrari. Meu carro é do ano passado e agora pessoas estão começando a não me dar mais tanto valor quanto antes. PenaGanância gosta de ser chamado de Dr., pois isso lhe assegura sua perspectiva de si mesmo como superior e bem-sucedido a se manter. PenaGanância está feliz enquanto todos o louvarem. PenaGanância é Dr., mas tem mais pena de si mesmo por não poder comprar aquela camisa importada de última moda, do que do guri que anda vendendo balinha no semáforo. PenaGanância vive em uma comunidade de prédios, onde as pessoas mal se conhecem, muito menos ajudam umas às outras. Assim que os problemas aparecem, a tendência da maioria das pessoas é se afastarem da pessoa que sofre. Quem sabe é como doença que pega? - pensam eles. PenaGanância se acha justo, pois é trabalhador, afinal, é Dr. Ajuda muitas pessoas no seu ofício. A doença acometida por PenaGanância é advinda de uma doença transmutada que acomete a humanidade desde o princípio. É a doença primeira: um desejo de ser superior às demais pessoas.

Muitos reis da Idade Moderna Europeia, para os quais nem o céu é o limite, alcançavam esse desejo através da concentração de poder e riquezas, de tal modo tão opressoras com relação ao povo, que tinham cada vez menos, passavam necessidades. No entanto. A mesma doença Ganância, aliada da pena de si mesmo, por não ser tão valorizado ou louvado quanto o outro determinado rei opressor, fazia o monarca esquecer da dor da miséria de seu povo. Seus auxiliares também viviam para o dinheiro e suas posições.

Isso não muda muito em certos lugares após as repúblicas serem formadas. Pois presidentes, ministros e parlamentares podem ser acometidos também pela mesma chaga na alma. Assim, destroem as pessoas e o país, mas principalmente, a si mesmos. Pois quem disse que um banquete de honrarias e comidas deleitosas faz alguém feliz?

Mas, por que o ser humano teima em não ouvir o que o Criador diz na Bíblia? Talvez por que há religiosos que também são acometidos pela mesma chaga, em outras variantes? Verdade, nem um ser humano está imune a cair nessa armadilha dessa doença letal e contagiosa. Mas nisso não está nem o Criador, nem os que verdadeiramente buscam o caminho inverso: de não fazer para o outro o que não gostamos que outros nos façam. Ou seja, o caminho do amor e da justiça. Mas como é possível aprendê-lo? Se colocando em oposição há qualquer intenção de se colocar como superior a qualquer outra pessoa. Pois, não é todo bem, dom, talento, capacidade e oportunidade dada pelo Criador? O amor que se doa pelo próximo, que busca seu desenvolvimento, seu benefício, esse só vem do Criador. E é Ele e o amor que Ele tem e nos doa para que tenhamos para com as outras pessoas, é que faz a nossa vida ter sentido.

Já há muito tempo atrás, a doença desse país se manifestava por muito sintomas, mas mesmo assim, nunca os sintomas foram levados a sério. Como uma criança irresponsável, que acha que suas ações sempre vão ficar impunes, seguem sem medo, até o dia em que não terá volta. Pois, mesmo se o ser humano falhar em alertar ou em punir a injustiça e não pedir a reparação, o Criador não falhará. Não se pode brincar com a vida das pessoas, com a educação, com a saúde, com o direito ao trabalho íntegro. Será o país comandado por máfias de pessoas contaminadas por essa doença, que insistem em machucar o povo e matar ou torturar seus adversários? O país se suicida sem esperança, por que não tem fé que no Criador, que quem com Ele anda está seguro. Afinal, esta é a única coisa que Ele pediu: que andemos com Ele em humildade, amor e justiça para com o próximo. Mas quantos de nós fazemos isso? Quantos de nós estamos isolados ou não sabemos como ajudar ou obter ajuda? O País é uma nação de órfãos? Onde está o amor comprometido das mães adotivas? Sabem ser mães só para seus filhos? Onde está o casamento, o respeito à dignidade da mulher e o dever de honrar marido e mulher mutuamente para construção de um lar de respeito e paz, onde se ama ao Criador e às outras criaturas?

O que comumente se ouve é que não tem jeito. A corrupção é um grande monstro cuja luta contra o qual grande parte do povo não sabe como fazer para derrubá-lo. Será que não Nordeste e o Norte não podem ser ajudados pelos estados mais ricos e mais fortes, ao invés de, em desespero, virem buscar melhores condições no sul? Por que o irmão mais desenvolvido não pode ajudar o irmão que ainda não se desenvolveu tanto? E se desenvolveu tanto, por que não é capaz de manter sua natureza intacta, provendo novamente a chance das pessoas voltarem a interagirem com a natureza nas grandes cidades? Se não há empregos, o que podemos fazer para gerá-los? etc.

Mas o único jeito de derrubar esse monstro virtual que se esconde adoecido e acumulando riquezas e honra às custas do sofrimento alheio é a de que cada comunidade seja ativa e participante. Que cuidemos uns dos outros. Que não deixemos de pedir pelas necessidades uns dos outros. As comunidades devem participar ativamente da vida da escola. Devem promover manifestações culturais locais. Devem buscar tornar seus bairros mais verdes e sustentáveis, com ambientes saudáveis para as crianças se desenvolverem e brincarem sem medo. Cada comunidade deverá ter comunicação e solidariedade com as demais. Sem mentira, sem manipulação, sem jeitinho. Transparente. Responsável. Com comunicação verdadeira e controlando as emoções para não magoar os outros ou agir inapropriadamente. Independentemente do governo. Não dá para esperar o governo. Cada um tem que s responsabilizar pelo bem-estar do próximo naquilo é capaz de ajudar. Temos que fazer nossa parte e exigir que o governo faça a dele. Temos que sair do individualismo e cuidar uns dos outros. Ajudar um a diminuir o sofrimento e a carga do outro. De cidades em cidades, haverão grupos comunitários independentes do governo, que podem dialogar com o governo, até que toda sua chaga seja extinta e a burocracia seja vencida por um sistema de leis que funcione na prática, e não que acumule procedimentos que não só não ajudam mas atrapalham a resolução dos problemas tão imediatos do nosso povo. Nosso povo tem bons e eficientes profissionais de todas as áreas. Mas, mesmo que não tivesse, poderíamos buscar ajuda. A apatia não se justifica de modo algum. Fé, no Criador, e por causa dele, em si mesmo, pois Ele ajuda a cada um que deseja aprender a amar mais e ser mais justo. Ele está perto de cada um que O busca em verdade.

Veja ao seu redor, em sua pequena comunidade: quem está precisando de emprego? Quem precisa ser treinado para o emprego, para a vida? Quem precisa de remédio? Quem precisa de dinheiro para pagar a Faculdade? Quem precisa de visitas? Quem precisa que as compras sejam levadas em sua casa, mas não podem pagar? Quem precisa de uma mão, tem a sua? Um sorriso?  E se tem, então, tem aonde essas pessoas pedirem? Por isso, é necessário órgão comunitário que seja inclusivo, respeitoso, solidário, igualitário, humano. Se tivermos isso, conseguiríamos. Não é por meio da força e imposição, é por meio do amor, respeito e do diálogo que constrói junto. Pois os políticos não são deuses. E nos políticos ou no ser humano, não há esperança quando ele se põe fora do Criador, fonte de todo o bem. O Criador é só um. E só a Ele pertence todo poder, toda glória e todo mérito, justiça e amor. Esse é o caminho para a espiral ascendente. Vamos subir juntos ou esperar o dia da queda sem volta? 

domingo, 12 de junho de 2022

Não através da força, nem da violência, mas respeitando a livre escolha

 


Martinho e Lucas eram adolescentes amigos de escola. Conversavam sobre muitos assuntos. Eram quase como irmãos. Mas, suas famílias eram muito diferentes uma da outra.

Os pais de Lucas eram muito autoritários e não eram muito de dialogar com ele. “Ordem é ordem; regras são regras! E não tem que discutir! Obedeça!” Assim pensavam eles. Por isso, Lucas sentia-se preso e sempre angustiado, com medo de ser punido, seja em palavras ou atitudes. Não via a hora de ser livre e independente. Então, formaria para si um lar amoroso e afetivo, cheio de paz, delicadeza e gentileza, onde todos ajudassem uns aos outros e se apreciassem mutuamente.

A casa de Martinho era muito diferente da de Lucas. Era um ambiente descontraído, com muita conversa e risada. Claro, também tinha hora para conversas sobre assuntos mais sérios. Mas, não se elevava a voz e só respeito sempre era mantido, tanto da parte dos pais, quando da parte dos filhos. O pai de Martinho fazia muitas perguntas sobre seus sentimentos, opiniões e gostos. Prestava atenção nos seus interesses. Queria realmente saber como ele se sentia e via as coisas, tinha interesse em conhecê-lo profundamente, e que ele também se autoconhecesse.

Martinho podia falar tudo abertamente com seus pais, pois mesmo quando discordavam dele, nunca eram agressivos, nem ofensivos, nem usavam de ameaça, como os pais de Lucas, para que ele fizesse o que eles queriam e então se sentissem seguros. Havia regras na casa, do que era certo e do que era errado, por ser prejudicial ou injusto a si mesmo e/ou aos outros. Mesmo quando reprovava um ou outro comportamento de Martinho, seus pais queriam que ele compreendesse seus motivos e razões, e percebesse que as regras, princípios e conselhos que eles lhe davam, eram para que fosse sempre feliz e que tudo lhe fosse bem, sem ter necessidade de sofrer danos ou prejuízos consequentes de escolhas tolas. Assim, pediam que ele considerasse o que falavam antes de fazer suas escolhas definitivas. Todos, adultos e adolescentes, pediam perdão quando falhavam aos preceitos justos ou quando magoavam outras pessoas, e buscavam reparar seus erros. Todos estavam sujeitos da mesma maneira à Lei do Criador e deviam reconhecer suas responsabilidades. Dessa forma, tanto os adolescentes quanto os adultos iam se aperfeiçoando na prática do amor e da retidão, e juntos eram responsáveis por construir o ambiente familiar harmônico, respeitoso e afetivo. Era necessária a colaboração de cada um.

No entanto, na casa de Lucas, o clima era de que se ele fizesse tudo que dele era pedido, não fazia menos que sua obrigação. E se falhasse em algo, então levava uma bronca enorme, ou era ameaçado, ou recebia gritos e palavras duras. Não se sentia amado, nem apreciado, muito embora soubesse que seus pais queriam seu bem. Eles estavam interessados que eles fizessem o que eles queriam para que ele estivesse seguro aos seus olhos. Com isso, a ajuda para que o filho se autoconhecesse não era valorizada, e sim a obediência. Lucas sentia-se um eterno devedor, que, em sua máxima performance, receberia como prêmio, a ausência das broncas e gritos. Até na rua, os pais de Lucas viviam brigando com as outras pessoas, em busca de exigir o que era “certo”. O lado positivo é que eles queriam fazer as coisas corretamente e assim serem benéficos. Mas, ninguém pode exigir que o outro faça o que ele quer. Pois isso é desrespeitar as escolhas das pessoas. No entanto, os pais de Lucas não percebiam que os meios rígidos e autoritários poderiam ferir as pessoas, que se sentiam desrespeitadas, e que algumas atitudes agressivas podiam negar-lhes a cordialidade e o bem-estar. Na verdade, as pessoas quando falham, precisam, às vezes, de um olhar bondoso e palavras positivas, para que continuem animados perseverando no caminho em rumo ao mais amoroso, gentil, repleto de sabedoria de Deus.

Certo dia, Lucas chegou na escola nitidamente pálido e com os olhos inchados. Parecia muito aflito. Durante a aula, parecia muito distante. Martinho notou que ele nem conseguia participar da aula e parecia muito triste. Durante o intervalo conversavam:


- O que aconteceu, Lucas?

- Ah, o de sempre. Sempre cobranças, gritos e reprovações. Quando falo o que penso, recebo tantas críticas ou até menosprezo das minhas opiniões, combinado com alguma coação, tentativa de me forçar ou impor, para que eu não siga o que tenho convicção ou o que estou pretendo escolher, mas o que eles querem. Minha casa é um lugar autoritário onde não consigo falar o que penso, nem ninguém parece querer saber. Contato que eu siga as regras e cumpra meus deveres… Eu não tenho voz. Não posso ser eu mesmo. Vivo com medo de ser atormentado pelos meus pais e suas atitudes agressivas.

- Quer pedir para os seus pais para passar o final de semana na minha casa?

- Já fizemos isso, lembra? Alivia um pouco, mas depois que volto pra casa, sinto-me ainda pior, pois aí me dou conta de quão maravilhoso é poder crescer com liberdade de ser você mesmo, em um ambiente amistoso, alegre e cheio de diálogo como a sua casa, e a semana seguinte fico mais triste ainda,

- O que você sugere, então?

- Sugiro que você finja ser eu e mude para minha casa.

- O quê?

- Você sabe como as pessoas na escola dizem que somos parecidos. Se fizermos o mesmo corte e cabelo e trocarmos nossas roupas, podemos ficar iguaizinhos. Esse é nosso último ano na escola, depois vou me mandar para fazer universidade em outra cidade bem longe, para não sofrer com essa braveza dos meus pais.

- Não esqueça que eles querem para você o melhor e acham que assim você se sairá bem.

- Eu sei. Mas eles não percebem que o que eu mais preciso é um ambiente amoroso e calmo para eu me desenvolver. Sei que não podemos fazer tudo que queremos sempre e que devo ser responsável e agir corretamente. Mas, não aguento mais esse clima nervoso. Quebra esse galho pra mim, amigão?

- Tá, tá bom. Vamos fazer um teste de uma semana. Ai vejo como é com seus pais.

- E assim foi.


Depois da escola, no dia seguinte, cada um foi para a casa do outro, o contrário de sempre.

Lucas ficou feliz da vida. Ele tinha espaço para falar e ser ouvido. Tinha tranquilidade. Não era chamado toda hora e exigido. Importavam-se com sua opinião e gostos, e com seus sentimentos, não somente com as regras. E não demandavam tanto quanto seus pais. Para ele parecia um paraíso. Tinha mais liberdade e um lar cheio de harmonia e alegria.


Mas Martinho, na casa dos pais do Lucas, começou a experimentar as aflições que ele descrevia passar todos os dias. Grito daqui, crítica de lá, nunca tá bom, sempre tá devendo. Sua vida se tornou amarga. Voltou para escola e desabafou com Lucas no dia seguinte: Lucas, socorro! Eu também não vou aguentar isso, não.

- E agora, o que a gente faz?

- Quero voltar para minha casa, disse Martinho.

- Já sei, tive uma ideia. Lembra do Oscarzinho, aquele menino difícil que só apronta?

- Sei.

- Que tal fazer um intercâmbio escolar e eu ir para a casa dos pais do Oscarzinho e ele para minha?

- Por que?

- Talvez com Oscarzinho eles desistam do método imposição e controle para lidar com ele.

- Não sei não. Acho que eles vão bater nele.

- Oscarzinho era um menino impossível.


Percebeu desde o início em que estava na casa dos pais de Lucas que eles eram controladores e dominadores. Por isso, resolveu mentir e dissimular, sempre que quisessem lhe impor. Assim, conseguiria aprovação deles e que eles não o amolassem.

- O casal achou Oscarzinho ótimo, bem melhor que seu filho Lucas. E não entenderam por que Lucas não era tão obediente como ele. Desde então, muitos anos se passaram, mas os pais de Lucas sempre mencionavam o maravilhoso Oscarzinho e sempre que ele lhes contrariava eles mencionavam: “Por que você não é obediente como Oscarzinho?”.

- Muitos anos se passaram e cada um seguiu suas vidas, escolhendo seus próprios caminhos. Lucas casou-se e foi morar com sua esposa. Seguiu a vida de acordo com seu próprio caminho e convicções, embora elas fossem diferentes das de seus pais e do que eles o queriam forçar a fazer e ser. No entanto, Lucas era uma pessoa íntegra, trabalhadora, amável, e busca agir com justiça, solidariedade, compaixão e doação ao próximo.

- Certo dia enquanto estavam todos juntos em uma reunião de família com seus pais, o vizinho chegou correndo com o jornal na mão cuja manchete principal dizia: “ Oscarzinho preso por estelionato, após golpear uma família em mais de 1 milhão de dólares”.

Naquele momento, os pais de Lucas ficaram tão chocados que não conseguiam falar nada. Para Lucas não era tão grande a novidade, só o ápice de um caminho de desvios e mentiras que começou

no infância de Oscarzinho. Mas, para seus pais, ele era o modelo de obediência. Até tinham um pouco de orgulho por terem ajudado a educar o rapaz….

Pensaram: nunca mais vou tentar controlar as escolhas de outro ser humano, muito menos ser autoritário e quer impor coisas a pessoas de mais de 12 anos de idade. De duas, uma: ou as pessoas vão se afastar de nós, para poderem ser elas mesmos; ou vão se afastar de si mesmas, de como o Criador os fez, tornando-se mentirosos e enganadores, quando na verdade, enganam e prejudicam a si mesmas, além de outros.

Nesse mesmo dia, pediram perdão a Lucas por todas as vezes que tentaram forçar que as coisas fossem como eles achavam que era bom para eles.

Agora, sei” - ,disse, sua mãe

Não era certo tentar interferir em escolhas que são suas, nem puni-lo ou tentar forçá-lo quando não escolher de acordo com minha opinião. Nenhum ser humano pertence a outro, mas todos ao Criador. As coisas não são do nosso jeito. As coisas são do jeito de Deus, conforme o propósito com que Ele criou cada um e ofertou dons e talentos a cada um. Cabe tão somente orientar conforme os valores éticos do Criador e deixar que o outro, em liberdade, percorra seu próprio caminho, faça suas próprias escolhas. Afinal, amor é deixar o outro ser livre, dar orientação e ajuda que sabemos, quando a pessoa assim, desejar.” E tem mais. Nós não sabemos tanta coisa. Às vezes, a orientação que a pessoa precisa nós não somos capazes de dar, pois ainda não temos sabedoria o bastante. Mas o Criador tem. Certamente, Ele guiará quem O buscar de coração verdadeiro para aprender o caminho do amor e da justiça. Então, meu filho, disse ela, sei que estará seguro nas mãos dEle, pedindo por Sua sabedoria e direção. E estarei aqui sempre para você, caso queira uma opinião ou conselho ou que compartilhe com você o que tenho aprendido através das minhas experiências. Seu pai disse: eu também penso o mesmo filho. Perdoe-me.

Então todos se abraçaram, quando pela janela Lucas viu alguém olhando para ele. A pessoa parecia muito feliz por ele e ergueu as mãos pros céus agradecendo. Era o Martinho, seu grande amigo, partilhando de seu alívio e alegria, por ter iniciado hoje uma nova dinâmica afetiva e de liberdade na família Lucas, que se tornava na direção do que ele sempre sonhou: família afetiva, carinhosa e respeitosa, apreciadora das qualidades uns dos outros, mesmo quando a característica dos outros não é igual à nossa.




quinta-feira, 31 de março de 2022

O Robô e o Menino - O conhecimento sozinho não é suficiente




Um menino cresceu na companhia de seu amigo Robô. Tudo faziam juntos, era seu companheiro desde quando era bebê.

Certo dia, percebeu que seu amigo robô estava muito triste. Preocupado, perguntou-lhe: O que está acontecendo Robô? Por que está triste?

O Robô disse-lhe: Estou cansado das minhas tarefas serem todas pré-programadas pelos humanos, disse, em desabafo ao menino. Quero ter um coração para poder tomar decisões, como os humanos.


O menino disse a ele: Isso não podemos dar a você, Robô. Isso nos foi dado pelo Criador. Muitos seres humanos dariam tudo que têm para terem toda a informação que você tem no cérebro deles.

Por quê? Porque assim seriam apreciados, teriam maior aprovação de toda a sociedade, conseguiriam empregos em altas posições das companhias e salários bem pagos em seus trabalhos.

Eu entendo que receber aprovação é algo agradável. Mas no meu caso, disse o robô, sou aprovado até que seja criada uma melhor tecnologia do que a minha, ou seja, um robô de tecnologia mais avançada que a minha. Então, serei jogado no lixo.

Se eu tivesse um coração, amaria todas as pessoas e daria valor a elas, pois todas têm potencial para serem bondosas, importarem-se e cuidarem umas das outras e de suas reais necessidades. Todas tem algo a contribuir com seu trabalho usando seus dons e talentos. Só é preciso dar chance e condições para que todos se desenvolvam.

Se eu tivesse um coração, agradeceria ao Criador todos os dias por me dar a liberdade de tomar minhas próprias decisões e me juntaria a outros que querem ajudar a construir um mundo mais amável, onde ninguém é excluído, nem inferiorizado ou descartado.

Um mundo onde todos podem desenvolver seus talentos e dons, e terem oportunidades para ajudarem uns aos outros nas suas necessidades que envolvem diferentes áreas do conhecimento. Assim todos poderão ter suas necessidades básicas humanas satisfeitas, pois todos serão contribuintes, todos serão respeitados e valorizados.

Veja por exemplo aquele garoto que dorme na rua– ele não é bem tratado; vê aquele lá – é rico, tem tudo, mas não é feliz; E a quantidade de informação não pode mudar isso. Mas, a decisão em usar a informação para realizar bons atos e gestos pode fabricar felicidade.

Eu sou programado para fazer sempre as mesmas coisas. Não posso interromper meu programa para cuidar de uma pessoa necessitada, ou para dar um sorriso para alguém que está triste, ou para ajudar alguém sobrecarregado a carregar sua carga.

Cuidar de alguém de acordo com suas necessidades reais básicas requer percepção e decisão. Fazer cada um a sua parte. Quando Deus me der meu coração, vou usar toda informação que tenho para ajudar as pessoas a não sofrerem mais.

O menino disse: Sabe de uma coisa, Robô. Você já tem um coração. E ele é muito menos duro do que o de muita gente.

Por quê? - disse ele surpreso – Porque mesmo que ainda não possa tomar decisões, você já tem o melhor desejo: o de servir a outros para benefício deles.

O tempo foi passando e chegou rapidamente o dia em que o Robô se tornou obsoleto, ultrapassado, e, conforme previa, foi considerado, por muitos, sucata.

O menino, que então já era pai, entretanto, manteve o amigo consigo em boas condições e nunca deixou de amá-lo. Pelo contrário, resolveu contar a história do seu amigo Robô aos seus filhos e eles a seus vizinhos e amigos de escola, que por, sua vez, contaram a todos ao seu redor, e assim, a história do Robô se espalhou; Todos queriam conhecê-lo e ele se tornou a referência de todas as gerações que depois do menino vieram, para que nunca ninguém se esquecesse de que a decisão de amar e cuidar um dos outros, principalmente dos menos favorecidos, que não tiveram boas condições de desenvolvimento ou estão em posições mais frágeis, é mais preciosa que milhares de informações usadas por alguém cujo coração se tornou frio.

Pois, as informações podem mudar e o ser humano pode descobrir mais coisas que hoje não conhece, mas o amor é eterno e liga os corações para todo sempre. Com amor, podemos beneficiar outros utilizando conhecimento. Com amor, podemos remover a dor de quem não tem suas necessidades supridas e ajudar com que eles mesmos tenham emprego e possam usar seus dons e talentos e através disso receberem seu salário. E os que não tem paz e até os que esqueceram o amor de seu coração, podem reaprendê-lo e praticá-lo novamente, não deixando as tarefas e excesso das informações danificarem o principal.


terça-feira, 1 de março de 2022

O Homem que Redescobriu seu Coração

 

Era uma vez uma sociedade, onde o valor de cada pessoa era conforme suas conquistas e sucessos. Foram ensinados que deveriam estudar para ter os melhores desempenhos, para assim, terem trabalho e serem valorizados pela sociedade. Pensavam que tinham que competir uns com os outros para sobreviverem. Então, cada um se fechava em si mesmo, estudando como louco para tirar notas altas para não serem humilhados pela sociedade. Comparavam-se uns com os outros e não conseguiam ser muito amigos, pois, afinal, a rivalidade e a corrida pela valorização estava presente. E ninguém queria ser desvalorizado.

Quando trabalhavam em assuntos diferentes era mais fácil serem amigos, pois a competição, pelo menos de trabalho, não existia. Mas, a competição na vida continuava. Pois, nessa sociedade, as pessoas eram medidas pela quantidade de dinheiro, conquistas e sucesso que tinham. Mas, havia algo muito contraditório em tudo isso: certamente quem mede, usa um critério ou instrumento de medida. E o dessa sociedade era principalmente o dinheiro e os alcances científicos ou atléticos, ou de altas posições sociais, como cargos de chefias e poderes, sejam políticos, acadêmicos, religiosos, etc.

Entretanto, no meio dessa sociedade, havia um grupo de pessoas especiais. Essas eram pessoas que tinham certas limitações físicas, cognitivas ou intelectuais. Elas estavam sempre unidas e não se mediam pelos mesmos parâmetros dessa sociedade. Certamente, tinham desvantagens para alcançar as altas posições, os altos desempenhos em certas atividades, etc, mas algo mais significativo não os faltava: aceitavam uns aos outros assim como eram, sem exigirem uns dos outros. Atribuíam valor intrínseco uns aos outros, pelo seu ser, pela sua essência, não pelas circunstâncias de terem ou não conquistas. Afinal, para eles, o mais importante é o que o ser humano tenha um bom coração. Talentos e dons todos têm, de modo diferente. E assim, todos podem contribuir, de maneiras diferentes na sociedade. Mas, assim como todas as pessoas têm fortalezas e dons, todas tem também limitações e fraquezas.

Suas dificuldades haviam lhes ensinado algo importante: que todos somos limitados, mas isso não tira de nós a nossa beleza interior. Afinal, o amor que tinham um para com os outros, o cuidado e aceitação mútua, a alegria de poderem se divertir juntos e compartilhar a vida, tudo isso era tão maior que suas limitações. Mas, algumas pessoas que não tinham necessidades especiais ainda não haviam aprendido essas lições. Comparavam-se e competiam umas com as outras em suas posições, cargos, conquistas e prêmios. Não aceitavam as pessoas que não haviam conquistado muito como eles. Não conheciam o amor e o cuidado mútuo. Pois, estavam muito ocupados estudando, trabalhando, para serem bem-sucedidos. Quase não tinham tempo nem para sua própria família, o que dirá para serem solidários, amorosos e gentis com as pessoas que não eram bem-sucedidas aos olhos da sociedade

Então, veio uma grande crise econômica, e cada vez mais pessoas bem-sucedidas foram demitidas, e não mais encontravam trabalho. Passaram a serem vistos como fracassados por aquela sociedade individualista. Entre eles, estava Francisco. Ele se lembrou das pessoas especiais de sua sociedade, pois agora compreendia como talvez se sentissem por serem considerados não tão valorosos pela sociedade como as pessoas que têm, supostamente, menos limitações evidentes. Olhou para os profissionais desvalorizados da sociedade, a pessoa da limpeza, a pessoa que ajudava a achar o livro que ele queria ler na biblioteca, o professor de educação física que ajudava as pessoas a fazerem ginástica e assim se manterem saudáveis.

E pensou: como pude ser tão tolo a ponto de me deixar levar por essa onda onde só alguns são valorizados e outros depreciados? Todos precisamos de todos, pois as pessoas com seus diferentes talentos e dons, diferentes fraquezas e fortalezas se completam, aprendendo umas com as outras, se não as desprezarem. Por que então alguns são vistos como menores ou com menor valor? Quem está medindo, pensou ele? O dinheiro? A fama? Se temos algum dom ou habilidade, quem nos deu? Existe alguém que não tenha nenhum dom ou que esteja em vão no mundo? Por que não é garantido a todos o direito ao desenvolvimento e ao trabalho, cada um conforme suas capacidades e talentos? Então, Francisco verdadeiramente se assustou consigo mesmo, por ter feito parte daquele jeito de pensar o mundo, se tornando um escravo de um sistema que conforme a circunstância valoriza alguns e não se importa com os outros.

Passou a se sentar com todas as pessoas que antes evitava, por não fazerem parte dos admirados pela sociedade. Viu sua simplicidade e aprendeu a amar. Deu prioridade a ver o amor nos corações. Percebeu o quanto se importavam e cuidavam uns dos outros. E um podia contar com o outro nas suas dificuldades. E cada um fazia o máximo de suas possibilidades para ajudar um ao outro e o mundo. E todos tinham características e dons diferentes, e todos, inclusive ele, tinham limitações diferentes. Um, era paciente e meticuloso, o outro, era ágil e rápido; outro era sensível e perceptivo, outro, era talentoso nas artes, um era extremamente carinhoso e afetivo, outro, era engraçado e alegrava a todos, e assim por diante.

Percebeu que no grupo de pessoas especiais, não havia competição. Ela não fazia sentido. Todos tinham espaço e lugar para ser e existir com integridade. Quando alguém precisava de trabalho, os outros ajudavam a encontrar. Muitos trabalhavam em firmas que tem algumas vagas separadas para pessoas especiais. Outras pessoas que trabalhavam na limpeza, não tinham desenvolvido tanto a sua intelectualidade, mas sabiam muito sobre a natureza e haviam sido agricultores. Francisco percebeu o quanto havia sido ignorante. Pensou que pessoas simples como essas produziam seus alimentos e, mais recentemente, limpavam sua sujeira. Então, Francisco sentiu a sua miséria e que sua limitação era maior do que a de todas essas pessoas. Pois, era na alma, na sua essência, já que tinha se desvirtuado do que realmente importa por medo de ser humilhado por um sistema cruel e sem amor, onde a circunstância de uma prova ou de um conhecimento serve para elevar uns em glória e rebaixar outros ao descaso e à falta de cuidado, respeito e amor.

Então, Francisco decidiu que queria aprender a amar e a ser ele mesmo em essência e a estar alinhado aos valores do Criador. Decidiu dar valor a todas as pessoas, pois cada um é feito à imagem e semelhança do Criador e tem características, talentos e dons únicos. Mas o mais importante, cada um pode ser amoroso e decidir amar ao Criador e ao próximo como a si mesmo, com todas as capacidades que Ele deu, sejam elas mais ou menos limitadas nesse ou naquele aspecto. Cada um tem missões que só ele pode desempenhar no mundo, valorizem os outros homens ou não.

Decidiu que voltaria a estudar e trabalhar ajudando outras pessoas a desenvolverem seus potenciais. Hoje ele trabalha como educador e psicólogo de pessoas em situação de risco, ajudando-os a desenvolverem seus talentos, sem perderem de vista o mais importante: que nunca deixem de colocar o amor ao próximo em primeiro lugar. Afinal, um bom coração é mais importante que mil talentos e prêmios. Pois, a pessoa de bom coração usa seus talentos para benefício dos outros, para nunca rebaixar nenhum outro ser humano, para contribuir que todos tenham vida íntegra.

Mas, a pessoa que ainda não aprendeu a amar, desperdiça todos os seus talentos em um mundo que eleva uns e pisa nos outros, de acordo com valores exteriores e passageiros, como dinheiro, obras humanas, conquistas externas, para manter a si mesmo elevado.

E Francisco notou que se elevar e diminuir outros é idolatria, fazer de si ou de algo criado um deus. Mas só o Criador é Deus. E cabe às criaturas aprenderem o amor ao Criador e às outras criaturas. É isso que deu à vida de Francisco sentido e felicidade, o amor que redescobriu sem seu coração, em sua essência, no seu ser interior.





quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Cultivando o Respeito, a Calma e a Paz




Pedro e Maria eram dois irmãos adolescentes que se amavam muito. Viviam se divertindo e ajudavam um ao outro nas mais diferentes tarefas e desafios que passavam.

Certo dia frio de inverno, os irmãos estavam em casa. Pedro pediu para sua irmã Maria ligar o aquecedor, pois estava sentindo frio. Maria ligou o aquecedor.

Maria pensou: Seria legal hoje fazer um bolo para tomar com chá à tarde. Vou fazer aquele bolo que meu irmão adora. Ele vai ficar muito contente.

Maria começou a preparar o bolo, mas percebeu que um ingrediente estava faltando. Resolveu ir ao supermercado ao lado para comprá-lo. Já havia ligado o forno para preaquecê-lo. Então pensou: o forno está ligado e aqui em casa já está quentinho e vai ficar ainda mais. Foi até o quarto de seu irmão para perguntar se podia desligar o aquecedor. Mas, Pedro estava dormindo.

Então, Maria decidiu desligar o aquecimento da casa e foi até o supermercado buscar o ingrediente que faltava. Ficou contente pois conseguiu encontrá-lo e voltou logo para casa. Continuou preparando o bolo quando de repente.

- Pedro irado gritando apareceu na cozinha e disse: Eu já disse que estava com frio! E descontrolado disse coisas que machucaram os sentimentos de Maria. Pedro estava nervoso, com o coração acelerado. Em vez de se acalmar e pensar antes de falar e agir, foi dando espaço para a raiva.

Maria ficou quieta, muito embora por dentro se sentisse magoada. Sabia que conversar com uma pessoa que está fora de si não leva a nada bom, pois quando deixamos os impulsos nos governarem, ficamos descontrolados e podemos destruir as coisas mais importantes na vida: nossos relacionamentos de amor e amizade. Por isso, escolheu como prioridade cultivar a paz em seu lar, e fazer escolhas através do pensamento, não de fortes emoções, pois essas podem nos levar a conclusões enganosas. O mais importante é focar em como resolver os problemas que aparecem sem magoar ninguém nem causar dano.

Maria ficou um pouco triste e dolorida por dentro. Mas procurou focar em continuar seu bolo. Terminou de assar o bolo e preparou uma xícara de chá quentinho para levar para seu irmão.

Pedro, quando viu seu bolo favorito e o chá ficou envergonhado por sua atitude anterior. Agora que estava calmo, conseguia perceber que Maria o amava, e que sempre se importava com ele. Pensou: Ela jamais teria desligado o aquecedor se soubesse que eu ainda estava com frio. E Maria lhe disse: Me desculpe, achei que a casa já estava quente demais, e preocupada com os gastos de aquecimento, desliguei o aquecedor.

Pedro sorriu e disse: Muito obrigada. Pedro pensou: Como fui tolo. Por que não me acalmei e perguntei por que ela havia desligado o aquecedor? Não posso ficar bravo cada vez que as coisas não são do meu jeito. Afinal, quando há mais de uma pessoa em um lugar, as coisas não são só de uma maneira. Cada pessoa deve dar um passo em direção ao outro, saindo dos seus interesses para os interesses dos outros. Assim, construímos algo nosso. Nem tudo do meu jeito, nem tudo do jeito do outro. Eu me preocupo com o outro e o outro se preocupa comigo. E quando vier alguma dúvida ou algo que não gostamos, em vez de dar espaço para irritação, podemos manter o nível amoroso de conversar, e chegar a um acordo, tomando decisões conjuntamente.

Maria disse: Sabe, eu ia perguntar a você se podia desligar o aquecedor, mas você estava dormindo. Como já tinha aquecido por um tempo e o forno estava ligado, e a casa estava quentinha, resolvi desligar achando que faria um pouco de economia com os gastos. Me desculpe. Quando for assim e não tiver oportunidade de te perguntar, vou esperar até poder te consultar. Não quis te perturbar. Só quero sua felicidade e bem-estar sempre. Me desculpe.

Pedro disse: Eu sei. Me desculpe ter falado com você daquele jeito agressivo. Então, se abraçaram e comeram bolo com chá quentinho juntos e tiveram uma maravilhosa tarde.


terça-feira, 30 de novembro de 2021

Super-heróis do dia a dia

Em uma grande cidade morava um menino chamado Rodrigo. Ele queria ser muito valorizado, quase como um super-homem. Queria ser reconhecido e admirado por todos. Tudo o que fazia, todo o dinheiro que ganhava de seus pais e todos os seus esforços eram usados nesse sentido.

Rodrigo não conseguia perceber o valor dos serviços tidos como “menores” que aconteciam no seu dia a dia, pois eles não eram valorizados pelos adultos ao seu redor. Eles passavam pela sociedade quase desapercebidos, embora fossem essenciais e feitos com muito amor pelas pessoas em seu dia a dia.

Rodrigo queria algo que o fizesse ser bem-visto aos olhos de todos, afinal, queria ser valorizado, querido, apreciado. Quando ficava sabendo que um médico, por operar com sucesso seu paciente foi elogiado e que médicos eram valorizados, queria ser médico. Quando um empresário bem-sucedido recebia aplausos na televisão, queria ser empresário. Quando um banqueiro ficou famoso por emprestar dinheiro para uma grande quantidade de pessoas durante a crise, Rodrigo queria, então, ser banqueiro. Quando via um astro da música popular era aclamado pelos fãs, queria ser cantor. Quando um bombeiro foi bem-sucedido em fazer um resgate e saiu da capa da revista, Rodrigo queria ser bombeiro. Quando a foto de um juiz aparecia em todos os jornais, por ter ajudado a julgar um caso complicado, Rodrigo queria ser juiz. E assim por diante. 
Dessa forma, Rodrigo andava como uma onda, oscilando para cima e para baixo, sem saber quem ele era, o que era realmente importante para ele e quais eram os seus dons e talentos, ou seja, quais coisas tinha facilidade e gosto para realizar.
 
Certo dia, Rodrigo teve um sonho e nesse sonho todas os profissionais passavam por ele. 

O padeiro mostrava-lhe o pão que ele havia comido, o costureiro mostrava a roupa que ele estava usando, o farmacêutico mostrava o remédio que ele tinha tomado que ajudou ele a ser curado, o lixeiro, mostrava a cidade e os rios limpos, pois ele ajudou os papéis, metais, vidros, e plásticos a serem reciclados e o lixo orgânico a ser levado para os aterros sanitários que previnem o lixo de contaminar o solo. Tudo isso foi indispensável para sua saúde e bem-estar. 

O jardineiro lhe mostrou que, sem seu trabalho, não haveria um jardim bonito no parque, nem os animais passarinhos, patos, esquilos, etc, seriam atraídos ao parque, sem as plantas e árvores das quais ele cuidava. Sem a natureza, a cidade ficou só concreto … era muito triste. Além isso, o ar poluído não se renovava, pois não havia plantas e árvores para produzir oxigênio suficiente para o ser humano respirar bem. A vida na terra estaria ameaçada se o ser humano não cuidasse bem da natureza. 

O professor apareceu mostrando como ele e sociedade não conseguiriam resolver os problemas das diversas áreas por falta de conhecimento e sabedoria. A sociedade seria caótica, cheia de problemas mal ou não resolvidos. Tudo quebrado, tudo mal feito ou feito de modo a causar dano. As pessoas não tinham respeito, não sabiam conversar sobre as diferenças sem faltarem com o respeito, não controlavam suas emoções e o país explodiu em violência e as coisas não funcionavam. Então, haveria enorme número de desempregados, e o país precisaria importar profissionais estudados de outros países para saberem como resolver os problemas das diversas áreas de conhecimento (engenheiros, técnicos, enfermeiros, advogados, professores, psicólogos, assistentes sociais, operários de fábricas, artesãos, artistas, músicos, etc) e dos relacionamentos entre as pessoas. 

O sonho de Rodrigo lhe mostrou como seria a vida dele na cidade, sem um dos profissionais que hoje colaboram em suas funções. Tudo não ficava bem. Rodrigo percebeu que muitos dos profissionais existem para contribuírem para atenderem necessidades básicas dos seres humanos como comer, vestir, morar, transportar, se comunicar, ter higiene e boa saúde, etc. Esses profissionais podiam, aos olhos de alguns, passarem desapercebidos ou até erradamente serem considerados não tão importantes, mas eram, na verdade extremamente valiosos e essenciais. 

Em seu sonho, cada profissional aparecia a ele mostrando o fruto e importância do seu trabalho, onde o fruto do seu trabalho era indispensável para a vida dele. Rodrigo entendeu que todos os profissionais são importantes e fundamentais – e todos deveriam ser valorizados e serem pagos suficientemente bem para terem boa qualidade de vida, sem que nada essencial lhes faltasse. 

Também notou que todos eles têm dias difíceis e dias vitoriosos, mas nem sempre seu trabalho é reconhecido, embora tenha muito valor, valor indispensável para a sociedade. Sem o professor, as pessoas não poderiam aprender.. sem o agricultor, as pessoas não teriam nem frutas nem vegetais -tudo tem ciência – sem a tecelã e a costureira, não teríamos o que vestir; sem o construtor, não teríamos onde morar, e assim por diante. 
Mas pensou: então porque cada um deles não é valorizado e não ganha o suficiente para viver sem estar preocupado em pagar as contas ou se algo ira lhes faltar? Rodrigo refletia: "Todos estão colaborando para as necessidades humanas. O mais importante não é qual dom ou talento uma pessoa tem ou desenvolve, mas o amor com que ela usa seus talentos e dons...fazer para beneficiar a outros através de seu trabalho". 

Quando acordou, fez a pergunta a seu pai: "Pai, por que todos os profissionais que fazem bem seu trabalho não são valorizados? Por que alguns não ganham o suficiente para viverem sem se preocuparem se algo vai faltar ou se vão conseguir pagar as contas? ".
  "Esta é uma longa história" – respondeu o Pai. 
 E disse: - "Algumas pessoas querem ser mais valorizadas que as outras, ou terem mais dinheiro, reconhecimento ou poder. Então, elas diminuem o valor do serviço dos outros aos olhos da sociedade para elas mesmas ganharem mais, e com isso, ficarem mais ricas e influentes".
 "E os considerados “pequenos” profissionais não podem fazer nada?" - disse Rodrigo. "Eles tem sindicatos, mas os governos não dão muita atenção para eles, para que os grandes continuem tendo vantagens sobre eles"- respondeu o Pai. 
 "Mas, por quê? " "Acredito que algumas pessoas perdem a noção do que é mais importante no trabalho e na vida: beneficiar aos outros, por amor às pessoas. Então, elas se perdem e acabam fazendo esse tipo de injustiça, por que querem ser ricas ou poderosas ou aplaudidas pela sociedade. Mas há esperança filho! Há muitos trabalhadores que continuam fazendo seu trabalho por amor, beneficiando as pessoas, sem prejudicarem ninguém. Elas não desvalorizam os serviços dos quais se beneficiam todos os dias e são agradecidas a todos. 
Afinal, todos somos interdependentes e precisamos de muitas coisas e serviços uns dos outros para sobrevivermos e termos boa qualidade de vida.
 Muitas pessoas nos ajudam todos os dias, mesmo que não as vejamos. Por exemplo, os profissionais que estão tratando a água para que possamos tomar um banho limpo ou beber água potável. Raramente vemos esses profissionais. Mas eles estão trabalhando para nós". 
 Nós devemos ser agradecidos e lembrar que o trabalho de cada profissional exige esforço, conhecimento e dedicação, e que ele nos beneficia todos os dias. 
Assim como gostaríamos que outros não desvalorizassem nosso trabalho, não devemos nunca desvalorizar o trabalho dos outros. Pois, somos beneficiados por eles todos os dias, mesmo que alguns não nos valorizem. Todo serviço correto que ajuda a suprir as necessidades básicas humanas, tem muito valor, principalmente se for feito com amor no coração, gerando somente benefício à sociedade. 

Rodrigo disse ao Pai: "Pai, de agora em diante vou ser muito mais agradecido a cada um deles. E vou contar aos meus colegas que todos são tão importantes que não podemos viver bem sem o serviço que eles fazem. Assim, mais pessoas não vão aceitar que eles sejam desvalorizados ou não tenham boas condições de salário e vida".
"Boa ideia, filho. Vou procurar elogiá-los mais e ser mais agradecido a eles também. Afinal, você pode imaginar quanto trabalho teríamos que fazer sozinhos se eles não existissem? Nenhum de nós conseguiria viver bem. A sociedade é feita de cooperação, respeito e valorização mútua. E todos tem dons e talentos únicos para colaborarem nessa rede cooperativa."

Quando Nossa Educação Deseduca

  A nossa educação deseduca sempre que ensinamos conhecimentos, sem instruir os valores éticos que devem dirigi-los. A nossa educação ...